domingo, 27 de dezembro de 2009

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

DESEJAMOS A TODOS UM PRÓSPERO ANO NOVO DE 2010 , REPLETO DE REALIZAÇÕES PESSOAIS ESTENDIDO A TODA FAMÍLIA.
PELA CORAGEM COMBATIVA EM  DEFESA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
QUE CADA UM POSSA FAZER A SUA PARTE ONDE ESTIVER E , EM QUE SITUAÇÃO SE ENCONTRE


ESTEJAM EM PAZ


I.D.D.P.H.  - INSTITUTO DE DEFESA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
ANDRE
CEL 9606-7642

domingo, 22 de novembro de 2009

A antropologia forense dá passos em diferentes áreas de investigação


A antropologia forense dá passos em diferentes áreas de investigação, embora seja uma ciência recente. A estrutura óssea e a dentária podem fornecer elementos nos domínios mais variados, desde a simples identificação do sexo à etnia, muito úteis em cenários de catástrofe e atentados.
Identidade
O crânio, a região pélvica e o tórax permitem estabelecer é o sexo do cadáver. A altura é identificada pela medição de alguns ossos, como o fémur.
Etnia
Podem determinar-se características populacionais através do ângulo facial, forma do crânio, índices cefálicos e índices radioumerais.
Causa de morte
A causa da morte só pode ser estudada em situações que deixem marcas como fracturas, ferimentos por armas de fogo ou intoxicações crónicas.
Catástrofes
Em desastres naturais, como um terramoto ou um tsunami, por vezes, a forma mais eficaz de reconhecimento é feita pela identidade óssea e dentária.
Identificação em atentados, incêndios. As equipas de antropologia forense foram fundamentais na identificação das vítimas do 11 de Setembro.
Pedofilia
Estudo morfométrico da cara permite reconhecer crianças e adolescentes a partir de imagens de redes pedófilas. E prever o seu envelhecimento.



http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1426463

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Homossexualidade e formas de vida da sua nomeação

Certamente que a via ou o método que escolhermos para, para abordar, tanto a questão da homossexualidade, como a das formas de vida socialmente aceitáveis dos homossexuais e a da sua nomeação, condicionará o juízo ou a conclusão a que se quer chegar. Os católicos e a Igreja sempre têm, na sua matriz cultural e na sua tradição doutrinária, como referência, principal e principial a via filosófico-teológica. A história, longa de muitos séculos, tem confirmado a pertinência desta forma de abordagem, determinante mas não excluente, e capaz de integrar várias outras aportações, nomeadamente as das ciências humanas.
A abordagem filosófico-teológica é, aqui e sempre, a de uma filosofia que se deixa iluminar pela teologia e a de uma teologia que se abre aos desafios e às mediações da filosofia.  Se alguém quiser, por aproximação, saborear a beleza e as implicações desta forma de abordagem, pode, por exemplo, ler e meditar, com proveito, a Evangelho da Vida, de João Paulo II.
A personalização da existência dos humanos tem a sua raiz na disponibilidade ontológica com que fomos agraciados pela doação da vida, a exigir e a suportar a nossa abertura e a nossa relacionalidade, a nossa identidade e a nossa diferença. Quando os humanos se fecham a esta dimensão incontornável da sua humanidade, tornam-se desumanos, porque iludem e escondem a sua marca de transcendências, substituindo-a pela soberba e pela idolatria de si mesmos, numa perda de sentido que lhes rouba dignidade e altura espiritual. A palavra com que, no étimo latino, se diz a pessoa e o personalizar – per+sonare – já indicia esta excelência do superlativo da per-feição (como, por exemplo, no per-doar, no per-durar e em tantas outras nomeações).
Por isso e desde este ponto de vista, algumas formas de vida têm de ser consideradas como mais personalizantes e mais humanizantes, enquanto outras, pelo contrário, podem e devem mesmo chegar a ser consideradas como despersonalizantes e desumanizantes.
Alguma da nossa incultura dominante pretende começar por logo subverter a nossa forma de olhar a realidade, tornando-nos o modelo quase acabado do homo cyberneticus, aquele que apenas reage a estímulos e a estimulações e se orna incapaz de ver para além da superfície das aparências, desde logo na forma de sentir a corporalidade do seu corpo. O que então se acaba por perder é evidentemente a própria realidade na sua fundura ontológica, substituindo-a, p. ex., por “paradas” e por campanhas, subvertendo de caminho a nossa capacidade de nomear e de respeitar a palavra e as palavras.
A palavra e as palavras deixam então de ser parábolas (evangélicas e evangelizadoras) da realidade e ficam apenas reduzidas a catálogo de classificação de estímulos mais ou menos instintivos, mesmo se a soberba dos legisladores lhes vier a dar a (fraca) “força” de uma lei…
A natureza e a sua lei – essa sim, natural e humanamente eco-lógica – põe-nos diante dos olhos e logo à frente do nariz a diferença de género e como são os humanos sobre a terra: homens e mulheres, masculinos e femininos. Tanto a sabedoria das culturas, como a ciência, têm sabido discernir e assumir as formas aceitáveis e os níveis a que se possa, responsavelmente e no tempo longo, compatibilizar igualdade e diferença de género. A diversidade de formas de vida deve respeitar a vida na diversidade da sua riqueza, sob a condição de a não ofender, tanto na sua nomeação como na sua essência.
  Aqui a sexualidade e o amor são ontologicamente e eticamente incontornáveis e mutuamente se condicionam na força da sua expressividade. O respeito pela sua natureza não se pode reduzir a uma questão de excitação de hormonas, nem é redutível ao redutor dualismo homofobia-homofilia, de sabor quase gnóstico e perigosamente platonizante. A tentativa de perverter, casuisticamente e publicitariamente, o sentido e o senso (comum) das palavras ou da nomeação dos nomes, em nada altera a sua vinculação a realidades que têm a seu favor a força da lógica da vida (biologia, fisiologia e outras) e a sua manifestação (aparição e aparência) na natureza dos humanos, onde a sexualidade está presente em todas as dimensões da existência, nomeadamente, p. ex., sob a forma do carinho (da encarnação da carne e das palavras que a tentam dizer) e muito para além da genitalidade somática.
A homossexualidade significa perda de possibilidades da personalização, Ainda mais grave se afecta aqueles que, pela pouca idade, estão em processo de formação e de personalização e ainda sem referenciais de abertura a horizontes de experiência. Este empobrecimento ontológico remete para um perigoso embotamento e empobrecimento éticos.
Nos papéis – envergonhados e quase desfeitos pela chuva – pendurados na publicidade anónima das paredes na baixa de Lisboa, chegavam ao ponto de pretender pressionar e condicionar até a própria ciência, ao exigirem o que chamavam a despatologização da homossexualidade. Alguma imprensa já chamou a esta questão, fracturante do bom senso comum, mania ou moda e outras nomeações bem menos simpáticas…
  Uma antropologia filosofante – que é muito mais do que a soma de andrologias e de ginecologias e lhes é anterior e posterior— não pode esquecer a ontologia e a ética e torna-se caminho capaz de ajudar a encontrar mais e melhor sentido, nas manifestações da existência dos humanos, e a superar dificuldades. A atenção aos fenómenos mais significantes do nosso existir – a alegria, o desejo, a vergonha, o respeito, o nascer e morrer, o amar e muitos outros – ensinar-nos-á que, até as aparências, podem e devem deixar de nos iludir, se chegarmos à sua densidade ética e ontológica.
Se desafiarmos esta antropologia filosófica com a sabedoria e a riqueza de uma antropologia teológica – bíblica e de sapiência eclesial – e os horizontes de interpretação que abre e oferece, então a caminhada existencial, pessoal e personalizante, cultural e historial íntima e socializável, ficará mais bela e mais facilitada.
A liberdade, um bem tão ontologicamente precioso e felizmente tão querido no nosso tempo e à nossa linguagem, tão estruturante da personalização da nossa personalidade, será então, de verdade, uma realidade libertadora…
Joaquim Cardozo Duarte

http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?&id=76177

domingo, 8 de novembro de 2009

Lévi-Strauss

7 de novembro de 2009


O século de Lévi-Strauss

Pensador francês morto aos cem anos nos ofereceu um modo de entender o humano como sistema de relação

Ele criou uma teoria inovadora sobre os fundamentos do social; postulou que é possível esboçar a complexidade dos mitos ou dos sistemas de parentesco em poucas equações; propôs que um pensamento sofisticado pode se erigir não apenas sobre conceitos abstratos, mas também sobre categorias do sensível – aliás, ele mesmo o demonstrou numa obra de mais de 3 mil páginas, Mitológicas, que mudou para sempre o modo de entender as culturas indígenas das Américas.

Inspirou-se nas analogias entre mitos e música, ou entre as simetrias da natureza e as das criações humanas. Sem recorrer a sentimentalismos ou transcendências – ele era um homem de ciência –, desafiou ideias convencionais sobre a superioridade da civilização ocidental. Sem pregá-la de um modo explícito, sugeriu uma ética não humanista, fincada na diversidade e na distância (que os ecologistas de todo signo deveriam examinar). Foi criticado como formalista frio, mas também como autor demasiado engenhoso: suas ideias mais sérias podiam, às vezes, ter certo ar de charada.

Claude Lévi-Strauss, que morreu em Paris no último dia 31 de outubro, um mês antes de cumprir os 101 anos, costumava dizer nas entrevistas que ele não mais pertencia ao mundo dos vivos, senão a um século findo, e que se sentia feliz de não ter que adentrar muito no atual, num mundo demasiado obeso, onde a humanidade e o lixo que ela produz proliferam sem pejo, a custa de tudo o mais. E, no entanto, suas ideias têm ainda uma longa vida pela frente. Lévi-Strauss teve uma legião de discípulos, mas não criou escola, no sentido estrito de uma facção acadêmica armada de uma ortodoxia. Historiadores ou filósofos foram muitas vezes mais sensíveis às suas mensagens que os seus colegas de profissão. Suas ideias pairam sobre a cultura ocidental do último meio século, não raro semeadas pelos mesmos críticos que tentavam refutá-las: muito do seu estruturalismo tem sobrevivido aos pós-estruturalistas.

“Redescoberto” em vida nos últimos 20 anos, Lévi-Strauss manifestava, digamos, uma dupla personalidade: de um lado, era um intelectual consagrado cujas obras forneciam o cânone para temas como o racismo e o conceito de progresso (o seu texto Raça e História, procedente de uma conferência encomendada pela Unesco nos anos 1950), a universalidade da razão humana (discutida em O pensamento selvagem, o livro de antropologia mais citado fora dos estreitos limites da disciplina) ou o tabu do incesto (ponto de partida de As estruturas elementares do parentesco). De outro lado, ele inspirava inovações radicais nas ciências humanas: se muitos críticos o catalogaram como formalista foi porque provavelmente não chegaram a ler, ou a entender, o conceito de estrutura lévi-straussiano, que não é um esqueleto ou uma armação, mas um conjunto de transformações.

Contra as essências e as identidades, contra a cultura entendida como padrão fixo, Lévi-Strauss ofereceu um modo de entender o humano como contínua variação, como sistema de relações. Em lugar de aceitar os grandes relatos da História ocidental, com suas mensagens edificantes de progresso ou emancipação, ele sugeriu que a história é feita de modos diferentes de perceber a história: como repetição e adaptação de modelos eternos – é o que preferem as sociedades primitivas ou arcaicas, que gostam de ver como velhas conhecidas mesmo as novidades mais ab-ruptas – ou como uma mudança contínua e acelerada, como gosta de acreditar a nossa civilização, que a cada passo declara encontrar coisas nunca antes vistas no mundo. Outros sugeriram que o mito era a história dos primitivos; ele preferiu indicar que a história servia muito bem de mito aos modernos.

Por sua parte, Lévi-Strauss não quis fazer da ciência outro mito semelhante. Se alguma vez projetou submeter a antropologia a uma linguagem matemática, o resultado foi, paradoxalmente, uma modéstia que nem sempre se encontra nas ciências humanas: ao lado dessas poucas fórmulas e equações, o que destaca é o infinito do mundo que os humanos deverão viver sem que nenhum saber supremo o leve da mão. Talvez seja essa a garantia de atualidade de sua obra: em lugar de certezas codificadas, ela oferece um exemplo de imaginação teórica que sempre encontrará novos objetos na experiência.

Nascido em 1908 de pais judeus, Lévi-Strauss esteve no Brasil nos anos 1930, como membro da missão francesa que contribuiu aos inícios da Universidade de São Paulo. Sua estada não deixou rastro na cultura brasileira – ele era um jovem professor, cujos interesses, de resto, eram pouco acordes com as diretrizes daquela USP inicial –, mas foi para ele uma experiência fundamental: no Brasil, ele realizou a longa viagem de pesquisa (narrada por ele depois em Tristes Trópicos) onde pôde conhecer grupos indígenas como os Kaingang, os Bororo, os Kadiweu e os Nhambiquara.

Pesquisas breves, mas ricas em intuições e que esboçariam as linhas iniciais de 60 anos de trabalho de gabinete, e de centenas de publicações. Essa experiência, ao torná-lo um dos poucos especialistas em etnologia sul-americana da época, lhe garantiu também o exílio em Nova York durante a 2ª Guerra, salvando-o dos campos de concentração. Em Nova York, entrou em contato com as vanguardas científicas europeias e com a imensa obra da antropologia norte-americana de então: ele tornou-se, assim, o primeiro antropólogo verdadeiramente cosmopolita, recolhendo na sua reflexão heranças intelectuais muito diversas, e uma abertura exemplar às outras ciências. Voltando à França, em 1948, aquele homem, oriundo de uma família de artistas e com poucas perspectivas de fazer uma grande carreira acadêmica, chegou, ao cabo de 20 anos, a um lugar culminante da ciência e da cultura francesas: membro da Academia Francesa, professor do Collège de France e fundador do Laboratório de Antropologia desta instituição.

O Brasil só se tornou a segunda pátria de suas ideias já nos anos 1970, e, desde então, seu traço é visível na renovação da etnologia e na criação de uma historiografia dedicada aos temas indígenas. Sobretudo, foi ele quem melhor mostrou que os índios – os representantes por excelência desse mundo de outros que constituem a diversidade brasileira –, muito mais que um problema, um signo do passado ou um objeto da assistência social, são uma fonte de reflexão, uma experiência histórica valiosa e insubstituível. Num último lance de humor, Lévi-Strauss nos obriga agora a celebrar, quase sem solução de continuidade, o centenário e a conclusão de uma trajetória excepcionalmente longa e rica.

* Professor do Departamento de Antropologia da UFSC

http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&sour
8 de novembro de 2009 | N° 8617Alerta

Eles agem no calor do momento. Elas, de caso pensado

A antropologia trata a questão como cultural. A psicologia, no entanto, dirige o olhar para os aspectos físicos e biológicos que distinguem os gêneros




Às seis da tarde do dia 30 de dezembro de 1976, em Búzios, morria Ângela Diniz. Os quatro tiros disparados pelo companheiro Doca Street tiveram uma justificativa: ciúmes. A atitude impulsiva rendeu a Doca Street uma absolvição sob alegação de que agiu em defesa da honra. Um dos crimes passionais de maior repercussão do país, a reação popular fez com que o julgamento fosse cancelado e, na segunda ocasião, Doca acabasse condenado.

Doca agiu, à época, como 70% dos homens que participaram da pesquisa de Galicia: no calor da emoção.

A antropóloga Rozeli Porto compara o comportamento masculino ao oposto do feminino:

– A mulher, quando quer matar, espera o homem dormir, ou seja, premedita.


Um caso clássico dessa premeditação ocorreu em 1994, nos Estados Unidos. A equatoriana Lorena Bobbit, cansada das traições do marido, esperou que ele dormisse e, com uma faca de cozinha, cortou quase metade do pênis dele.

A antropóloga trata essa característica como cultural. O que corrobora pesquisas feitas na década de 1930 pela antropóloga americana Margaret Mead. Seus trabalhos demonstraram que as reações podem ser diferentes em outras culturas. A psicologia, contudo, dirige o olhar para os aspectos físicos e biológicos que diferenciam os sexos.

– Homens e mulheres processam de maneira diferente as emoções, e esta diferença não necessariamente seria produto da influência cultural ou social dos gêneros – avalia o psicólogo Oscar Galicia, em entrevista por e-mail, concedida do México.

Galicia fala da possibilidade de influência genética, que poderia interferir no funcionamento cerebral e na descarga hormonal.

– Podemos imaginar o agressor reativo como um indivíduo temperamental, com pouco controle e com baixa tolerância à frustração. Por outro lado, o agressor proativo se apresenta como uma pessoa com maior controle sobre suas emoções, com capacidade de planejamento e de antecipar os benefícios de sua conduta – explica o pesquisador, ao dizer que 90% das mulheres submetidas ao estudo revelaram-se proativas.

Fato é que, na prática, a conduta agressiva está no âmago de homens e mulheres. Ambos alcançam seus objetivos, mas cada um com suas artimanhas.

http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&sour

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Claude Lévi-Strauss: o pai da Antropologia moderna

 
Claude Lévi-Strauss: o pai da Antropologia moderna
PARIS, França — Claude Lévi-Strauss foi o fundador da antropologia moderna e pioneiro do estruturalismo, em trabalhos que se tornaram verdadeiros clássicos.
Filósofo de formação, percorreu o mundo para compreendê-lo melhor e estudar seus mitos, trabalhando pela reabilitação do pensamento primitivo, às vezes com um olhar moralista.
"Entre Filosofia e Ciência (...), sua obra é indissociável de uma reflexão sobre nossa sociedade e seu funcionamento. Tem um enfoque ecológico do mundo e dos indivíduos", escreve seu biógrafo, Denis Bertholet.
Em suas mais de 30 obras, entre elas a célebre "Tristes trópicos", Claude Lévi-Strauss propôs uma nova abordagem dos mecanismos socioculturais, aplicando a análise estrutural às Ciências Humanas.
Lévi-Strauss nasceu em Bruxelas, em 28 de novembro de 1908, de pais judeus franceses. Em sua juventude, militou na SFIO (Seção Francesa da Internacional Operária). Em 1931, obteve o título de catedrático de filosofia.
Nomeado professor na recém-formada Universidade de São Paulo (USP), se transferiu em 1935 para Brasília, onde dirigiu várias missões etnológicas no Mato Grosso e na Amazônia.
Partindo dos indígenas Bororo, Nambikwara e Tupi Kawahib do Brasil, Lévi-Strauss começou sua gigantesca pesquisa sobre a mitologia dos indígenas do continente, subindo de sul a norte, até chegar à Colúmbia britânica.
Contou essa experiência em sua autobiografia intelectual, "Tristes Trópicos" (1955), um dos mais importantes livros do século XX.
"Sempre fui um americanista por causa da impressão indelével provocada em mim pelo Novo Mundo, ao que se acrescenta seu ambiente, que dura ainda, causado por meu contato com uma natureza virgem e (...) Creio que nenhum outro continente precisa de tanta imaginação para ser estudado", afirmou.
De volta à França, foi mobilizado em 1939 para combater na Segunda Guerra Mundial. Mas no ano seguinte foi liberado devido a sua origem judaica. Se refugiou então nos Estados Unidos e ensinou em Nova York. Após a guerra, em 1946, foi nomeado conselheiro cultural da embaixada da França.
Em 1949, obteve o cargo de vice-diretor do Museu do Homem de Paris.
A partir de 1950 ocupou a cátedra de Religiões comparadas dos povos sem escrita da Escola de Altos Estudos de Paris e, em 1959, a de Antropologia Social do Colégio da França.
Foi o primeiro etnólogo eleito membro da Academia Francesa, em 1973.
Entre suas principais obras estão "Estruturas elementares do parentesco" (1949), "Antropologia estrutural" (1958), "Pensamento selvagem" (1962), os quatro tomos da série "Mitológicas" (publicados entre 1964 e 1971) e, como já citado, "Tristes trópicos".
Em "O pensamiento selvagem", editado em 1962, demonstra que não há uma verdadeira diferença entre o pensamento primitivo e o nosso. "Não se trata do pensamento dos selvagens e sim do pensamento selvagem. É uma forma que é atributo de toda a humanidade e que podemos encontrar em nós mesmos, mas preferimos, no geral, buscá-la nas sociedades exóticas", explicou.
É também autor de "Mitológicas", obra da qual o primeiro de seus quatro volumes ("O cru e o cozido") ilustra a oposição entre a natureza e a cultura. Lévi-Strauss sondou profundamente as relações entre cozinha e cultura.
Claude Lévi-Strauss morreu em Paris, onde morava num prédio discreto.
No ano passado, quando completou 100 anos, foi homenageado com uma dia dedicado a sua obra no Museu do Quai Branly, uma exposição na Biblioteca Nacional e a reedição de inúmeros de seus livros.
Pouco preocupado com a posteridade, não escreveu suas memórias, mas se abriu com Didier Eribon em um livro intitulado "De perto e de longe".
"Cada um de seus livros é um manual de pensamento que força a inteligência a abrir-se, e uma espécie de evangelho laico que ajuda a comover-se ante a vida", escreveu sua amiga e especialista em sua obra, a filósofa Catherine Clément.
Em uma das poucas entrevistas que deu nos últimos anos, em 2005, depois de evocar sua "dívida" para com o Brasil, afirmou: "vamos para uma civilização em escala mundial, na qual, provavelmente, aparecerão diferenças, pelo menos é preciso esperar. Estamos num mundo ao qual já não pertenço. O que eu conheci, o que eu amei, tinha 1,5 bilhão de habitantes. O mundo atual tem 6 bilhões de humanos. Já não é mais o meu mundo".
Casado pela terceira vez em 1954, Lévi-Strauss tinha dois filhos.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

ANTROPOLOGIA E PSICANÁLISE

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Antropologia (do grego άνθρωπος, transl. anthropos, "homem", e λόγος, logos, "razão"/"pensamento") é a ciência preocupada em estudar o homem enquanto espécie primata e a humanidade ou seja seus símbolos e produtos culturais. Uma ciência conquistou seu lugar evoluindo de relatos de vivências e descrições de costumes feitas por viajantes afirmando a necessidade da pesquisa de campo e aprofundamento do conjunto de descrições etnográficas (corpus etnograficos) de todos os povos do mundo que vinham se acumulando (Laplatine) [1]. Distinguindo-se da sociologia e da economia política as denominadas ciências humanas e mesmo da psicologia social enquanto ciência dos costumes e estilos de vida. A antropologia dialoga com essas ciências afirmando seus próprios métodos e referencial teórico de diversas procedências, onde se inclui a via de mão dupla tanto desta para a antropologia como da antropologia para psicanálise.


A psicanálise, por sua vez pode ser descrita como um procedimento especializado de psicoterapia, uma teoria da personalidade e uma teoria da cultura ou filosofia sobre a natureza humana. Segundo Freud a psicanálise cresceu num campo muitíssimo restrito. No início, tinha apenas um único objetivo — o de compreender algo da natureza daquilo que era conhecido como doenças nervosas ‘funcionais’, com vistas a superar a impotência que até então caracterizara seu tratamento médico e possuía desde o início a expectativa de participar do desenvolvimento cultural como um fermento significativo auxiliar ao aprofundamento de nosso conhecimento do mundo.

Antropologia e psicologia

Tradicionalmente na antropologia divide-se em antropologia cultural e antropologia biológica, cada uma destas com suas contribuições específicas para o estudo da mente e comportamento humano. Em seu processo de construção abrigou diversas correntes de pensamento onde as contribuições da psicanálise são relevantes. Na antropologia cultural há de se considerar as aplicações da antropologia às emoções, saúde e à psicologia onde teoricamente, mas não sem conflitos, a psicanálise se insere. Nessa última um ramo inquestionavelmente associado à psicanálise possui uma interface interdisciplinar com o segmento da antropologia que estuda a interação de processos culturais e mentais ou cognitivos e uma área também comum à psicologia do desenvolvimento, que também analisa a forma como se realiza a socialização dentro de um determinado grupo cultural. Essa interdiscplinariedade nos permite compreender melhor como a cultura modela a cognição humana, a percepção, ou a emoção, sexualidade, motivação e saúde mental.
Para Marcel Mauss, (1872-1950), praticamente o fundador da etnologia francesa, tanto a questão da independência relativa entre fatos de diversas ordens biológicas e psicológicas e fatos sociais como a relação entre os fatos psíquicos e fatos materiais da sociedade devem ser investigados. Para esse autor os fenômenos psicológicos atuam como engrenagens (ainda não dimensionadas) entre o aparelho biológico / fisiológico e a ordem social. Entre as contribuições da sociologia que se distingue da psicologia coletiva por delimitar a morfologia (demográfica, estatística e histórica) do social em vez de lidar com abstração da coletividade, ou seja, da consciência (inspiração inconsciente) do grupo sem o seu substrato material e concreto.
Entre as principais contribuições das ciências sociais à psicologia segundo esse autor está a contextualização dos símbolos míticos e morais, um caminho já trilhado por Wilhelm Wundt (1832-1920) em sua Volkerpsychologie e pelo próprio Sigmund Freud (1856 – 1939) em ‘Totem e tabu’ como veremos em seguida, apesar das ressalvas contra esse último pela aproximação dos ritos e crenças à psicose. A noção de psicose, segundo ele importante contribuição da psicologia às ciências sociais esclarece alguns fenômenos coletivos como alucinações e sonhos coletivos associados ao fanatismo, vendeta em grupo, mitomania, loucura judiciária, alucinações do culto funerário etc. Destaca ainda como contribuições da psicologia às ciências sociais as noções de astenia e vigor mental, atividade simbólica e a noção de instinto [3]

Contribuições da psicanálise

Apesar de alguns autores como Alexander e Selesnick [4] situarem a psicanálise na perspectiva de desenvolvimento da história da psiquiatria a maioria dos historiadores da psicologia situam esta no início da evolução da psicologia clínica. Goodwin [5], Hothersall [6]
Esta escola é baseada na idéias de Sigmund Freud e outros psicanalistas acerca dos fenômenos sociais e culturais. Os adeptos dessa abordagem freqüentemente utilizam técnicas que exploram a relação entre a infância e a personalidade adulta – é clássica a comparação entre os ditos selvagens e primitivos, os neuróticos, psicóticos e as crianças utilizando (no caso de Freud) os relatos etnográficos da época especialmente de James Frazer (1854 -1941), Edward B. Tylor (1832 —1917) e William R. Smith (1846 – 1894) entre outros. A partir dos trabalhos propostos por Freud os psicanalistas estudam a influência e origem dos símbolos culturais (incluindo mitos, sonhos e rituais) comprando-os com os resultados da aplicação da técnica psicanalítica.
Entre os trabalhos de Freud selecionados pelo editor das edições standard de suas obras completas, James Strachey, cerca de 27 ensaios e/ou livros escritos entre 1907 e 1940, pode-se destacar:


• 1907 – Atos obsessivos e práticas religiosas.
• 1908 – Ética sexual civilizada e as modernas doenças nervosas.
• 1912 – Totem e tabu, alguns pontos de concordância entre a vida mental dos selvagens e dos neuróticos
• 1913 – A ocorrência nos sonhos de material proveniente dos contos de fadas.
• 1916 – Um paralelo mitológico a uma obsessão visual.
• 1918 – O tabu da virgindade
• 1921 – Psicologia de grupo e análise do ego.
• 1927 – O futuro de uma ilusão
• 1930 – O mal estar da civilização.
• 1932 – A aquisição e o controle do fogo
• 1938 – Uma nota sobre o anti-semitismo
• 1939 – Moisés e o monoteísmo

Entre outros psicanalistas que podem ser considerados parte desta escola estão:
Géza Roheim (1891 –1953), primeiro psicanalista com específicos trabalhos sobre psicanálise e antropologia (A origem e função da cultura (1945) e Psicanálise e antropologia (1953)) De acordo com Souza [7] é na sua obra «Psychoanalysis and Anthropology» (1953) que Róheim desenvolve a sua noção de cultura, trabalhada na sua diferença quer contra a noção filogenética de cultura proposta por Freud em «Totem e Tabu», quer contra a noção de cultura proposta pela antropologia culturalista. Em termos simples, podemos dizer que, para Róheim, a cultura humana é a conseqüência da infância prolongada da espécie humana, e que as áreas culturais decorrem da situação infantil típica que reina em cada uma das culturas humanas.
Erich Fromm (1900 —1980) que destacou-se na área pela proposição dos estudos de personalidade como resultado de fatores culturais e biológicos e aproximação com Marxismo possuindo diversos trabalhos sobre o cristianismo, religiões orientais (onde se inclui o célebre Zen Budismo e psicanálise em parceria com D.T. Suzuki and Richard de Martino) posteriormente integrante da Escola de Frankfurt com importantes trabalhos na área de psicologia social onde se situam os de Herbert Marcuse, (1898 —1979)
Erik Erikson (1902 —1994), assim como Róheim psicanalista do círculo de influência Melanie Klein (1882 — 1960). Pode ser considerado integrante da tendência culturalista da psicanálise americana. Possui alguns trabalhos sobre a influência da cultura especialmente a identidade e relações entre a infância e sociedade, tema título de seu livro publicado 1950, após período em que conviveu na reserva dos índios Sioux na década de 1930. Tal como Fromm relaciona a psicanálise com a história, política, filosofia e teologia publicando livros sobre Martinho Lutero, Gandhi e Hitler, contextualizado culturalmente suas biografias.
Dissidentes da psicanálise Carl Gustav Jung (1875 - 1961) apesar de formalmente reconhecidos como tal, não podem deixar de ser considerados. O próprio Freud reconhece que seu primeiro estímulo para escrever os ensaios reunidos como Totem e tabu (1912), talvez sua principal contribuição à antropologia, vieram de Wundt e Jung. Entre os trabalhos relevantes de Jung para antropologia encontram-se seus estudos sobre a religião ocidental - oriental, a parceria com o sinólogo Richard Wilhelm (1873-1930) e teoria dos símbolos e inconsciente coletivo, criticado mas tomados com referência no trabalho de Claude Lévi-Strauss (1908) sobre o significado dos mitos
Pelo fato de muitos cientistas sociais americanos e europeus durante os dois primeiros terços do século 20 possuir certa familiaridade com a teoria psicanalítica, fica difícil determinar com precisão quais devem ser considerados exemplos de antropólogos psicanalistas entre estes os integrantes dos estudos sobre as teorias da personalidade e cultura a exemplo de Clyde Kluckhohn (1905, - 1960), Geoffrey Gorer (1905-1985). Este último inclusive utilizou técnicas de entrevista baseada em entrevista clínica e testes projetivos, como o TAT (Thematic Apperception Test) or e do Rorschach em seus estudos etnográficos.
Destaque especial deve ser dado aos praticantes que se voltaram à pesquisa entre doença mental e cultura (cross-cultural) como Georges Devereux (1908 - 1985) considerado da etnopsiquiatria e etnopsicanálise juntamente com Geza Róheim [8] e Gananath Obeyesekere professor da Universidade de Princeton e do Sri Lanka (sua terra natal) conhecido por seus trabalhos sobre Depressão Budismo e Psicanálise onde considera a via de mão dupla dos povos estudados e teorias científicas. [9]
Perspectivas antropológicas
Ainda sobre a relação entre a vida mental dos selvagens e dos neuróticos é o referido antropólogo Levi-Strauss [10] que nos propõe que a comparação entre a psicanálise e a cura xamânica facilita o entendimento dessa última e considera a possibilidade do estudo do xamanismo, inversamente, vir a ser utilizado para elucidar pontos obscuros da teoria de Freud em especial as noções de mito e inconsciente.
A teoria da cultura como um conjunto de sistemas simbólicos, à frente dos quais situa-se a linguagem e as regras matrimoniais decerto permite uma aproximação desta com a teoria psicanalítica. Contudo ainda segundo esse autor [11] a psicanálise a análise estrutural divergem em um ponto essencial. Ao longo de toda sua obra Freud oscila sem chegar a escolher – entre uma concepção realista e uma concepção relativista do símbolo. Para a primeira cada símbolo teria uma significação única. Poderiam listar-se todas as significações num dicionário, que como Freud sugere não seria muito diferente de uma “chave dos sonhos” menos no tamanho. A outra concepção admite que a significação de um símbolo varia em cada caso particular e recorre às associações livres para a fixar. De forma ainda ingênua e rudimentar, ele reconhece, portanto, que o símbolo tira sua significação do contexto, da sua relação com outros símbolos, que por sua vez só adquirem sentido relativamente a ele. esta segunda via pode ser fecunda, desde que a técnica simplista das associações livres ocupe o lugar que lhe compete num esforço global que visa reconstituir a história pessoal de cada sujeito, a do seu meio familiar e social, a sua cultura.... Procuraria assim compreender-se um indivíduo do modo como o etnógrafo procura compreender uma sociedade....
E o grande enigma permanece sendo o símbolo. Jung [12] nos chama atenção que o uso consciente que fazemos do símbolo é apenas um aspecto de um fato psicológico de grande importância: o homem também produz símbolos, inconsciente e espontaneamente, na forma de sonhos e que há um limite de evidências e de convicções que o conhecimento consciente não pode transpor. Essa é a característica universal onde a psicanálise tenta se situar como um mito moderno a unidade comum a todas as culturas que Jung designa como inconsciente coletivo e que tenta atingir segundo Lévi-Strauss [13] depressa demais ignorando os aspectos morfológicos, estatísticos e históricos dos grupos que elaboram os sistemas culturais no dizer de Mauss (o.c.)
Ainda na perspectiva das contribuições que a antropologia pode trazer à psicanálise situam-se as questões de caracterizar o próprio saber e fazer da psicanálise, a relação de Freud com a cultura e sabedoria alemã, em especial com a Viena de sua época [14] além do que já foi mais amplamente discutido, sua relação com a cultura judaica. Sobre essa última questão vale citar a observação feita pelo próprio Freud [15] no prefácio de Totem e tabu para língua hebraica... um livro que trata da origem da religião e da moralidade, embora não adote um ponto de vista judaico e não faça exceções em favor do povo judeu. O autor espera, contudo, estar de acordo com seus leitores na convicção de que a ciência sem preconceitos não pode permanecer estranha ao espírito do novo judaísmo que algum dia, sem dúvida, se tornará acessível ao espírito científico.
Referências
1. ↑ Laplatine. Aprender antropologia. SP, Brasiliense, 2007
2. ↑ Freud, Sigmund. Uma breve descrição da psicanálise (1924 [1923]). Ed Standard das obras completas v. XIX , RJ Imago
3. ↑ Mauss, M. Relações reais e práticas entre a psicologia e a sociologia (1924) in: Soc. e antropologia. SP, Cosac Naify, 2003
4. ↑ Alexander, Franz G.; Selesnick, Sheldon T. História da psiquiatria. SP, IBRASA, 1980
5. ↑ Goodwin, C.James. História da psicologia moderna. SP, Cultrix, 2005
6. ↑ Hothersall, David. História da Psicologia. SP, McGraw-Hill, 2006
7. ↑ Sousa, J Francisco Saraiva. Antropologia e psicanálise
8. ↑ Laplantine, François. Aprender etnopsiquiatria. SP, Brasiliense, 1998
9. ↑ Obeyesekere, Gananath. "Buddhism, Depression and the Work of Culture in Sri Lanka." Culture and Depression. Ed. Arthur Kleinman and Byron Good. Berkeley, Calif.: University of California Press, 1985.
10. ↑ Levi-Strauss, Claude. A eficácia simbólica (1949) in: Antropologia estrutural. SP Cosac Naify, 2008
11. ↑ Levi-Strauss, Claude A oleira ciumenta. Lisboa, PT. Edições 70, 1987
12. ↑ Jung, Carl G. Chegando ao inconsciente. in: Jung, Carl G. (org.) O homem e seus símbolos. RJ, Nova Fronteira, 2008
13. ↑ Lévi-Strauss, Claude A oleira ciumenta. Lisboa, PT. Edições 70, 1987 p183
14. ↑ Gay, Peter. Sigmund Freud: um alemão e seus dissabores. in: Souza, Paulo César. Sigmund Freud & O gabinete do Dr. Lacan. SP, Brasiliense, 1990
15. ↑ Freud Sigmund. Totem e tabu (1913/1930) in Edições standard de suas obras completas... v.XIII. RJ, Imago, 1996

terça-feira, 20 de outubro de 2009

LOMBROSO

etiquetamento biológico

Cesare Lombroso (1835 - 1909)
Cesare Lombroso (1835 - 1909)
Hoje é dia do centenário de morte do italiano Cesare Lombroso. Ele foi  professor de psiquiatria, medicina forense e higiene da Universidade de Turim e estudioso positivista da antropologia criminal. Posteriormente, tornou-se estudioso de fenômenos mediúnicos.
Lombroso ficou bastante conhecido pelas suas teorias sobre o “delinquente nato”, ou seja, aquelas ideias de que as características físicas, fisiológicas e mentais dos indivíduos demonstravam se a pessoa era predisposta ao crime ou não. Em uma palavra: um criminoso poderia ser diagnosticado pelas condições anatômicas de seus corpos.
vict-lombroso
Foram ideias um tanto absurdas aos olhos dos dias contemporâneos, mas que foram acolhidas com entusiasmo no primeiro Congresso Internacional de Antropologia Criminal, realizado em Roma, no ano de 1885, tornando-se Lombroso uma “celebridade”.
Quatro anos mais tarde, porém, no segundo Congresso (dessa vez realizado em Paris), Lombroso viu boa parte de suas ideias serem refutadas, o que o levou da condição de “celebridade”, para uma outra condição de descrédito dentro da comunidade científica da época. Não obstante essas críticas, algumas ideias de Lombroso ainda ganharam sobrevida na antropologia criminal, amparada por pressupostos deterministas.
É bom lembrar que precisamente nesse período, final do século XIX, as Ciências Sociais passavam por importantes definições que iriam compor o escopo elementar de suas atribuições conceituais, tendo como um dos principais prismas os embates teóricos entre Émile Durkheim e Jean-Gabriel de Tarde, ambos iniciadores de conceituações sociológicas.
No mesmo período em que  Durkheim publicava suas obras Da divisão do trabalho social, Regras do Método Sociológico e O Suicídio,  Tarde publicava obras como Monadologia e Sociologia e A lógica social.
Era um período de consolidação de uma nova ordem social burguesa, na qual circulava fortemente ideias positivistas, deterministas e evolucionistas, atuando também pensamentos filosóficos. Voltada para o universal, a Filosofia estava além das particularidades sociais dos agenciamentos coletivos e individuais.
No ínterim de muitas inovações tecnológicas proporcionadas pela 2º revolução industrial, como o telefone, a fotografia, a luz elétrica – em outras palavras, a conquista de melhoramentos materiais -, veio a se somar o fato moderno das aglomerações das massas (sobretudo em Paris).
Essas ideias e conquistas burguesas circulavam no meio social em que Lombroso pensava, sentia e agia. Os pilares jurisdicionais do direito penal liberal prestaramu-se processualmente como instrumento de neutralização dos agenciamentos de uma decadente nobreza.
Em ascensão social por uma nova ordem, a burguesia se enobrecia enquanto sentia a presença cada vez mais ameaçadora de outras classes “perigosas”, advindas sobretudo das massas.
As massas eram assombrosas. Feias. Fora de padrões de normalidade física. Lombroso decodificou e resignificou determinados signos anatômicos daqueles indivíduos, e propunha uma pretensa tecnologia científica para classificação dos indivíduos “naturalmente” propensos ao crime.
Eram signos dessa dita propensão à delinquência nata: lábios muito grossos, mãos grandes, braços muito longos, maxilar e arcada dentária disforme ou defeituosa, mais ou menos dedos do que se deveria nas extremidades dos membros, muito cabelo e pouca barba, entre outras anormalidades dos padrões físicos, e também mentais.
A sociedade burguesa que construía aquela nova ordem social demandava um outro aparato jurídico para lhe garantir a permanência de poder agenciar seus interesses. Já não lhe concediam segurança aquelas ideias clássicas de Breccaria, Carrara e seus epígonos.
As mudanças sociais, materiais e simbólicas, promoviam também transformações nas visões de mundo, nas formas de pensar, de sentir, de agir. Pressupostos positivistas foram adotados para agenciar a regulamentação jurídica da vida em sociedade.
O cientificismo biológico foi um capacete ideal para o pensamento de Lombroso. Fazendo uso de levantamentos quantitativos dos defeitos físicos dos presos, ele elaborou um esquema de normatização do anormal. Lombroso atuava dentro do esquema de habitus específico dos discursos científicos de então – os discursos normativos do que seria a verdade garantida pela ciência.
As mais correntes objeções à antropologia criminal lombrosiana diziam respeito ao fato de existirem indivíduos que apresentavam os signos da propensão ao crime, mas que nunca teriam delinquido. Num mesmo campo determinista, colocou-se a explicação de que uma boa influência do meio social subtrairia as propensões naturais de um delinquente nato.
Evidentemente, a boa influência social era defendida como um dote das classes mais favorecidas. Tal enunciado garantia não apenas a salvaguarda do Direito Penal, mas também o poder de etiquetamento do criminoso pela antropologia criminal. A utilidade resultante desse enunciado era a segurança daquela ordem social estabelecida.
A ascensão das massas consistia num risco à essa ordem – que teria de ser assegurada a todo custo, nem que fosse através do Direito de encarcerar o anônalo, excluir do convívio social o estranho, normatizar o anormal, classificar o esquisito, condenar à morte o aberrante, em uma palvra, emendar o outro daquela boa sociedade.
___________________________________
Sugestões de leitura:
• Sobre Émile Durkheim:
“Três fórmulas para compreender “O suicídio” de Durkheim”
Link:
http://www.interface.org.br/revista11/espaco1.pdf
• Sobre Gabriel Tarde
“Multiplicando os agentes do mundo: Gabriel Tarde e a sociologia infinitesimal”
Link:
http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v19n55/a12v1955.pdf
• Sobre o habitus em Pierre Bordieu
“A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea”
Link:
http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE20/RBDE20_06_MARIA_DA_GRACA_JACINTHO_SETTON.pdf
• Prefácio escrito por Michel Foucault para o livro “Anti-Édipo, capitalismo e esquizofrenia” (Gilles Deleuze e Félix Guatarri)
“Introdução à vida não fascista”
http://www.unb.br/fe/tef/filoesco/foucault/vienonfasc.html
Autor: André Raboni - 19/10/09 às 17:37

http://acertodecontas

domingo, 18 de outubro de 2009

sábado, 17 de outubro de 2009

Doutorado em Antropologia Social - UNICAMP

Estão abertas as inscrições para o processo de Seleção do Curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP. O período de inscrição vai até o dia 30 de outubro de 2009.

sábado, 17 de outubro de 2009

LIVRO

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Livro: "Visão de Jogo - antropologia das práticas esportivas"

A Editora Terceiro Nome e o Bar São Cristovão (r. Aspicuelta 533, em São Paulo) convidando para o lançamento do livro Visão de Jogo - antropologia das práticas esportivas, organizado por Luiz Henrique de Toledo e Carlos Eduardo Costa com os autores Carlos Eduardo Costa, Claudemir José dos Santos, Juliana Affonso Gomes Coelho, Júlio César Jatobá Palmieri, Lara Tejada Stahlberg, Leonardo Erivelto Soares de Oliveira, Luiz Henrique de Toledo, Reinaldo Olécio Aguiar, Sandro Francischini e Thiago Passos de Oliveira, quarta-feira, 21 de outubro, às 19h.

33º Encontro Anual da Anpocs

33º Encontro Anual da Anpocs

16/10/2009
De 26/10/2009 a 30/10/2009
Faltam 9 dias para o início do evento. Duração: 5 dias
Agência FAPESP – A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), entidade que representa centros de pesquisa e programas de pós-graduação que atuam na área das ciências sociais, realizará, de 26 a 30 de outubro, a 33ª edição de seu encontro anual.
Em 2009, os debates do evento se concentrarão no cenário político, envolvendo temas como América Latina, 20 anos da queda do Muro de Berlim, cidades, meio ambiente e sexualidade, entre outros.
A previsão dos organizadores é de que o encontro tenha mais de 3 mil participantes, reunindo professores, pesquisadores e estudantes de antropologia, sociologia e ciência política.
A programação do evento incluirá 21 mesas-redondas, 41 grupos de trabalho com 692 apresentações, seis cursos, sete fóruns, três simpósios, três conversas com o autor, exposições de fotos e sessões de vídeo.
A Conversa com o Autor, que coloca em contato profissionais de vasta experiência com jovens pesquisadores, terá importantes nomes das ciências sociais, como os professores Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais, Otávio Velho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e José de Souza Martins, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e conselheiro da FAPESP.
O Encontro Anual da Anpocs terá três conferências de convidados estrangeiros: a antropóloga Marylin Strathern, da Universidade de Cambridge (Inglaterra), o cientista político Torcuato Di Tella, da Universidade Torcuato Di Tella, de Buenos Aires (Argentina), e o sociólogo e filófoso Hauke Brunkhorst, da Universidade Flensburg (Alemanha).
O antropólogo Florian Mühlfried, do Instituto Max Planck (Alemanha), participará de mesa-redonda sobre os 20 anos da queda do Muro de Berlim. Martina Löw, da Technische Universität Darmstadt (Alemanha), também estará presente no encontro.
Mais informações: www.encontroanpocs.org.br/2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009



Quarta-feira, 14 de Outubro de 2009



O PROBLEMA DO RACISMO À BRASILEIRA

PRIMEIRA: Roberto da Matta, em sua digressão no livro Uma Introdução à Antropologia Social, pretende demonstrar como a perspectiva sociológica encontra resistências no cenário social brasileiro. Segundo o seu ponto de vista, a perspectiva sociológica tem sido sistematicamente relegada a um plano secundário, dado que são as DOUTRINAS DETERMINISTAS que sempre lhe tomam a frente.
SEGUNDA: Apresentar o "racismo à brasileira" como prova da dificuldade de pensar socialmente o Brasil e como tentativa de especular sobre as razões que motivam as relações profundas entre credos científicos supostamente eruditos e divorciados da realidade social e as ideologias vasadas na experiência concreta do dia-a-dia.
Podemos perceber alguns aspectos ideológicos no discurso do autor:
  • assume uma postura radicalmente contrária ao "racismo"; e
  • é adepto da "antropologia da libertação" (pág. 62), buscando a compreensão da "substância" acima da "forma" das relações sócio-econômicas (final da pág. 61), isto é, em perceber o "éter" das relações sociais (cf. Marx); considera os intelectuais (antropólogos) como atores sociais transformadores (início da pág. 62).
O QUE SÃO DOUTRINAS DETERMINISTAS?
São complexos teórico-ideológicos supostamente eruditos, fundamentados em fatores sempre superiores ao domínio da vontade e dos desejos dos indivíduos ou grupos sociais, que florescem tanto no campo erudito, quanto no campo popular e que totalizam e determinam inexoravelmente o comportamento social, político e cultural de uma sociedade. O efeito imediato dessas doutrinas é o de suprimir qualquer discussão da realidade enquanto fato social e histórico específico e impedir qualquer tentativa de transformação. Em geral, tais doutrinas são difundidas e utilizadas como suporte ideológico pseudocientífico para justificar e estabilizar sistemas de dominação social, política e econômica.
São exemplos de doutrinas deterministas:
  • O racismo contido na "fábula das três raças" – fundamentado em "determinações biológicas"
  • Teorias positivistas de Augusto Comte – pressupostos evolucionistas.
  • O marxismo vulgar como moldura pela qual se pode orientar em grande parte a vida social, política e cultural do País – fundamentos políticos e sócio-econômicos distorcidos.
  • A moderna definição abrangente do "econômico" e das "forças produtivas" – fundamentada em "determinações econômicas" a priori.

PRECONCEITOS ANTROPOLÓGICOS DOS BRASILEIROS
(Levantar junto aos assistentes qual a idéia que cada um tinha da Antropologia antes de iniciar o curso.)
É sempre menor do que supomos a famosa distância que deve separar as teorias eruditas (ou científicas) da ideologia e valores difundidos pelo corpo social, idéias que formam o que podemos denominar "ideologia abrangente" porque estão disseminadas por todas as camadas, permeando os seus espaços sociais.
O termo "antropólogo" é desconhecido para a grande maioria dos brasileiros. Aqueles que têm uma vaga noção da palavra supõem ser a antropologia uma atividade misteriosa envolvendo ossos, crânios, túmulos e fósseis ou idealizam o antropólogo como um herói aventureiro (Indiana Jones). Estes, com base em conceitos da escola primária, freqüentemente indagam a respeito das "raças formadoras do Brasil" e da confirmação científica da "preguiça do índio", da "melancolia do negro" e da "cupidez" e estupidez do branco lusitano, degredado e degradado. Segundo essa visão tão errônea quanto popular, tais seriam os fatores responsáveis pelo nosso atraso econômico-social, por nossa indigência cultural e da nossa necessidade de autoritarismo político, fator corretivo básico deste universo social que, entregue a si mesmo, só poderia degenerar-se. Isto reproduz exatamente o pensamento racista do famoso Conde de Gobineau (A Diversidade Moral e Intelectual das Raças, 1856).
No imaginário popular brasileiro, o antropólogo é:
  • Um Indiana Jones: um senhor grisalho, de roupas cáqui, óculos finos e capacete de explorador que descobre esqueletos antigos enterrados no Egito.
  • Um sagaz contador de historietas de negros escravos, lendas de índios idealizados ou episódios históricos de damas, cavaleiros e príncipes portugueses, na graciosa fábula das três raças.
Em suma, fica a imagem do antropólogo social como:
  • Um medidor de crânios confirmador de teorias sobre as raças humanas;
  • Um arqueólogo clássico perdido entre discussões iniciáticas egípcias ou indianas que encontram ressonância no mundo ideológico brasileiro: no espiritismo kardecista, nos terreiros de Umbanda e nas teorias "científicas" da Parapsicologia.
O brasileiro situa a Antropologia...
... no contexto científico como:
  • Junto à Biologia (medindo caveiras e discutindo raças);
  • Como a Arqueologia Pré-Histórica.
... no contexto espaço-temporal (escopo):
  • Na secular História do Brasil (entendida como "história de raças" e não de homens);
  • Fora do mundo conhecido (na velha Grécia, no Antigo Egito ou junto com os homens das cavernas).
O conhecimento social é reduzido a algo natural como "raças", "miscigenação" e traços biologicamente determinados por tais "raças".
O senso comum brasileiro limita o conhecimento antropológico a um tempo anterior ao mundo social, no seu limiar. Não percebe (ou não admite) as suas possibilidades de inserção no contexto social contemporâneo.
Ao ser esclarecido sobre o que realmente é um antropólogo social (ou cultural), o brasileiro decepciona-se e tende a considerá-lo como "mais um desses chatos especialistas em problemas contemporâneos", problemas políticos e sociais dos quais ele deseja fugir a qualquer custo.
O fato social e ideológico fundamental é que, na consciência social brasileira, o antropólogo surge como um CIENTISTA NATURAL, com ...
  • unidades e objeto de estudo bem determinados: AS RAÇAS E A BIOLOGIA DO HOMEM COMO ESPÉCIE ANIMAL;
  • uma diretriz essencial: o PLANO DE EVOLUÇÃO DESSAS RAÇAS;
  • uma contribuição para o saber: O MODO PELO QUAL TAIS RAÇAS ENTRAM EM RELAÇÃO PARA CRIAR UM POVO AMBÍGUO EM SEU CARÁTER. (Uma banalidade empírica: "O que todo o mundo já está careca de saber desde os tempos da escola primária").
Esta visão de mundo e de ciência leva o brasileiro comum às seguintes conclusões:
  • Nada há que os homens ou seus grupos possam realizar concretamente;
  • Tudo é determinado por causas biológicas e nunca pelas razões sociais, no tempo histórico;
  • O "tempo biológico" tem razões que o tempo dos homens concretos e históricos desconhece, de nada valendo qualquer rebelião contra ele;
  • O antropólogo social torna-se um cientista desumanizado preso e sujeito ao estudo das coisas dadas, jamais daquilo que é realizado pelo homem em sociedade.
  • Sua "estória" é ordenadamente pessimista e indisfarçadamente elitista; não é uma narrativa de possibilidades e alternativas, atitude que faz nascer o otimismo, mas de derrotas e fechamentos, num universo onde a vontade e o espaço para a esperança é muito reduzido.
Em outras palavras, a conclusão é que a realidade social é imutável. Os homens são impotentes diante da sua realidade social ("deixa como está, para ver como é que fica.").
O autor atribui ainda uma outra visão da "consciência popular" acerca do antropólogo: uma espécie de economista produtor de um discurso formalista acerca de conceitos básicos como "modo de produção", "sobre-trabalho", "unidade produtiva", etc., que, em geral, ignora as questões concernentes à substância das relações sócio-econômicas:
A nosso ver, não se trata aqui do ponto de vista da consciência popular, mas sim da visão própria dos círculos acadêmicos brasileiros, pois, como bem assinalou o autor, a consciência popular está muito distante da real concepção do que vem a ser um antropólogo social para emitir tal juízo. Seria mais coerente colocar-se o próprio economista como objeto desta visão e autor das novas teorias deterministas que lastreiam o novo modelo brasileiro de dominação social.
Assim, o antigo determinismo biológico tende atualmente a ser substituído pelo determinismo econômico. Tende-se novamente a estabelecer um quadro em que, uma totalidade abrangente e superior que tudo submete e explica, esconde as possibilidades de resgatar o humano dentro do social, já que ele jamais pode ser contido em "leis", "fórmulas", "regras" ou determinações, a menos que o jogo das forças sociais assim o deseje.

UM IDEAL PARA A ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
(segundo Roberto da Matta)
Na visão de Roberto da Matta, o antropólogo brasileiro, para chegar à percepção daquilo que Marx denominou de "éter" das relações sociais, ou seja, os valores e as motivações que – como cultura e ideologia – emolduram e dão sentido às próprias relações sociais e de produção, deve investigar e responder a questões como, por exemplo:
  • Como se desenvolve o capitalismo no Brasil?
  • Como se dão concretamente as relações de produção e trabalho entre nós?
  • Como esse edifício é percebido pelos que nele estão envolvidos?
Além disto, defende o autor, o antropólogo deve perceber as idéias como elementos sociais ativos – "atores sociais" agindo quer como catalizadores, quer como inibidores de ações e condutas da sociedade – sob o risco de cair na postura teórico-formal e, com ela, no plano abstrato das determinações (determinismo).
Observe-se aqui a divergência de Roberto da Matta em relação à posição de Laplantine que condena a atuação do antropólogo como agente transformador da própria sociedade que estuda.
O "RACISMO À BRASILEIRA"
(IDÉIA: levantar a discussão "EXISTE RACISMO NO BRASIL? COMO ELE SE MANIFESTA?").
A sociedade brasileira apresenta, ao longo de sua história, SISTEMAS HIERARQUIZADOS plenamente concordantes com as DOUTRINAS DETERMINISTAS.
Os determinismos apresentam o todo como algo concreto, fornecendo um lugar para cada coisa e colocando cada coisa em seu lugar.

A FÁBULA DAS TRÊS RAÇAS
A importância dessa fábula reside, entre outras coisas, no fato de ela permitir a junção das pontas do popular e do elaborado (ou erudito) na nossa cultura, isto é, os seus aspectos empíricos (associados ao popular) e teóricos (associados ao concebido, erudito ou científico, aquilo que impõe a distância e as intermediações).
A profundidade histórica dessa fábula é impressionante. Que os três elementos sociais – branco, negro e indígena – tenham sido importantes entre nós é óbvio, constituindo-se sua afirmativa ou descoberta quase que numa banalidade empírica. É claro que foram! Mas o importante é o seu uso como recurso ideológico na construção da identidade social brasileira.
Isto não ocorreu da mesma forma nos demais países da América. Nos Estados Unidos, por exemplo, as coisas ocorreram de forma muito diversa do caso brasileiro. Naquele país não há escalas entre elementos étnicos: ou você é índio ou negro ou não é!
Tais gradações poriam em risco aqueles que têm o pleno direito à igualdade. Nos Estados Unidos não temos o "triângulo de raças" que foi mantido como um dado fundamental na compreensão do Brasil pelos brasileiros. Essa triangulação étnica tornou-se uma ideologia dominante, abrangente, capaz de permear a visão do novo, dos intelectuais, dos políticos e dos acadêmicos de esquerda e de direita. Todos proclamam unanimemente a mestiçagem e utilizam-se dessas unidades básicas – branco, negro, índio – através das quais se realiza a exploração ou a redenção das massas.
NO BRASIL DEU-SE UMA JUNÇÃO IDEOLÓGICA BÁSICA ENTRE UM SISTEMA HIERARQUIZADO REAL, CONCRETO E HISTORICAMENTE HERDADO DA MATRIZ PORTUGUESA E A SUA LEGITIMAÇÃO IDEOLÓGICA NUM PLANO MUITO PROFUNDO.
A sociedade portuguesa era extremamente hierarquizada tanto no contexto político quanto no social, com muitas camadas ou "estados" sociais diferenciados e complementares.
A IGUALDADE ERA RIGOROSAMENTE PROIBIDA.
Prelados, fidalgos, letrados, cidadãos (homens bons com direitos políticos) e, em último lugar, a grande massa, sem representação em cortes.
NINGUÉM ERA IGUAL PERANTE A LEI!
Assim era estruturada a complicada sociedade portuguesa, que se diferenciou das demais sociedades mercantilistas modernas por conservar justamente a aristocracia em seu seio. Embora fundada no modelo mercantilista moderno, era rigidamente controlada por leis e decretos que impediam a ascensão política de uma burguesia comercial com sua individualidade e interesses próprios. Ou seja, EM PORTUGAL IMPERAVA O MERCANTILISMO, MAS NÃO HAVIA UMA MENTALIDADE BURGUESA, COM SEUS IDEAIS IGUALITÁRIOS E INDIVIDUALISTAS. AS HIERARQUIAS TRADICIONAIS (ARISTOCRACIA E IGREJA CATÓLICA) FORAM MANTIDAS. Temos, pois, em Portugal a figura ímpar do ARISTOCRATA-COMERCIANTE OU DO FIDALGO-BURGUÊS, personagens de um drama social e político ambíguo, cujo sistema de vida sempre esteve fundado nos ideais da HIERARQUIA.
Nessa sociedade portuguesa dominada pelas hierarquias sociais abrangentes TUDO TEM UM LUGAR DEFINIDO. A categorização social é geral, inclusive em relação aos grupos étnicos diferenciados.
O português colonizador, longe de ser um indivíduo degredado e degradado, um marginal sem eira nem beira, RECONSTRUIU AQUI A SOCIEDADE PORTUGUESA ORIGINAL.
A colonização não foi uma empresa sem alvos e métodos definidos. Portugal realizou um verdadeiro transplante ideológico durante a colonização do Brasil, transpondo de lá para cá as suas formas de classificação social, técnicas jurídicas e administrativas, etc.
REPRODUZIU-SE AQUI EXATAMENTE A ESTRUTURA DA METRÓPOLE.
Embora não seja possível demarcar com precisão as ORIGENS DO CREDO RACIAL brasileiro, é possível assinalar seu CARÁTER PROFUNDAMENTE HIERARQUIZADO.
No momento em que as nossas estruturas começaram a ser abaladas pelas GUERRAS DE INDEPENDÊNCIA, houve uma REORIENTAÇÃO DOS SISTEMAS HIERÁRQUICOS vigentes no Brasil. Mesmo tendo esse caráter elitista, de cima para baixo, e não tendo, portanto, o mérito de promover transformações sociais mais profundas, a ruptura em relação à Coroa Portuguesa forçou as elites dominantes a buscar uma nova identidade brasileira, na verdade um NOVO ARRANJO IDEOLÓGICO que justificasse, racionalizasse e legitimasse as diferenças internas da nossa sociedade.
Na visão de Roberto da Matta, é justamente nesse momento que se introduz a FÁBULA DAS TRÊS RAÇAS E O "RACISMO À BRASILEIRA", uma ideologia que permite conciliar os impulsos contraditórios de nossa sociedade, sem que se crie um plano para a sua transformação profunda.
O período que antecede a Proclamação da República e a Abolição da Escravatura, momento de crise nacional profunda, quando se abalam as hierarquias sociais, é o marco histórico das doutrinas raciais brasileiras. A crise iniciada com a independência acabou se adiando e, por fim, desaguou no Movimento Abolicionista (progressista e igualitário) e na Proclamação da República (reacionário e fechado, destinado a manter o poder dos donos de terra).
A Abolição representou uma terrível ameaça ao edifício econômico e social do país. A IDEOLOGIA CATÓLICA E O FORMALISMO JURÍDICO PORTUGUÊS não se constituíam mais em elementos capazes de sustentar o sistema hierárquico, era preciso uma nova ideologia. Essa ideologia, ao lado das cadeias de relações sociais dadas pela patronagem e que se mantiveram aparentemente intactas, foi dada com o RACISMO. E ela surgiu de modo complexo, no bojo de dois impulsos contraditórios: um caracterizado pelo projeto reacionário de manter o status quo, libertando legalmente o escravo, mas mantendo-o de fato sem condições de libertar-se social e cientificamente; o outro tratando de perceber como o racismo foi uma motivação poderosa para investigar a realidade brasileira.
A FÁBULA DAS TRÊS RAÇAS se constitui na mais poderosa força cultural do Brasil, permitindo pensar o país, integrar idealmente sua sociedade e individualizar sua cultura. Essa fábula tem hoje a força e o estatuto de uma IDEOLOGIA DOMINANTE:
  • um sistema totalizado de idéias que interpenetra a maioria dos domínios explicativos da cultura, fornecendo por muito tempo as bases de um projeto político e social para o brasileiro (através da tese do "branqueamento" como objetivo a ser buscado);
  • permite ao homem comum, ao sábio e ao ideólogo conceber uma sociedade altamente dividida por hierarquizações como uma totalidade integrada por laços humanos dados com o sexo e os atributos "raciais" complementares;
  • Possibilita visualizar nossa sociedade como algo singular – especificidade que nos é presenteada pelo encontro harmonioso das três "raças";
  • Une a sociedade num plano "biológico" e "natural", domínio unitário, prolongado nos ritos de Umbanda, na cordialidade, no carnaval, na comida, na beleza da mulher (e da mulata) e na música.

AS FONTES ERUDITAS DO RACISMO BRASILEIRO
O racismo nasceu na Europa do século XVIII, na crise da Revolução Francesa, mas só veio dominar o cenário intelectual europeu no século seguinte, na forma das teorias evolucionistas cientificamente respeitadas, com as quais já estamos familiarizados.
No século XIX, o racismo aparece em sua forma acabada, como um instrumento do imperialismo e como uma justificativa "natural" para a supremacia dos povos da Europa Ocidental sobre o resto do mundo. Foi esse tipo de racismo que a elite intelectual brasileira bebeu sofregamente, tomando-o como doutrina explicativa acabada para a realidade que existia no país.
Adotaram-se amplamente as teorias racistas produzidas pelo norte-americano Agassiz e pelos europeus Buckle, Gobineau e Couty (mais influentes aqui por terem feito referências expressas ao Brasil). Na visão desses estudiosos o Brasil tinha um futuro duvidoso, pois a sociedade brasileira se caracterizava por "conjunções raciais rigorosamente condenadas" entre negros, brancos e índios.

AS DOUTRINAS RACISTAS DO SÉCULO XIX
PRESSUPOSTOS DAS TEORIAS RACISTAS
As teorias racistas baseavam-se em PRESSUPOSTOS simples e, justamente por isso, tinham alto poder atrativo sobre os círculos intelectuais políticos:
  • CADA RAÇA OCUPA UM CERTO LUGAR NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE e eram tomadas como espécies altamente diferenciadas, seja no tempo, seja no espaço, ou em ambas as dimensões; daí a ilação de que as diferenças entre as sociedades e nações expressavam as posições biológicas diferenciadas de cada uma numa escala evolutiva; Louis Agassiz, por exemplo, considerado o maior poligenista americano, não hesitava em situar a raça branca como superior e, após sua famosa visita ao Brasil, mencionar este país como um exemplo negativo da "deterioração decorrente do amálgama de raças que vai apagando rapidamente as melhores qualidades do branco, do negro e do índio, deixando um tipo indefinido, híbrido, deficiente em energia física e mental". Como se vê, o diagnóstico não é muito diferente do de Gobineau.
O DETERMINISMO, outro ponto essencial nas doutrinas racistas, estabelece que as diferenciações biológicas produziram (no "tempo biológico") TIPOS acabados e que cada tipo está determinado em seu comportamento e mentalidade pelos fatores intrínsecos ao seu componente biológico. Gobineau estabeleceu uma perfeita equação entre traços biológicos, psicológicos e posição histórica em seu A Diversidade Moral e IntelectuaESQUEMA DAS RAÇAS HUMANAS
SEGUNDO GOBINEAU (1856)

NEGRA
AMARELA
BRANCA
INTELECTO
Débil
Medíocre
Vigoroso
PROPENSÕES ANIMAIS
Muito fortes
Moderadas
Fortes
MANIFESTAÇÕES MORAIS
Parcialmente latentes
Comparativamente desenvolvidas
Altamente cultivadas

  • l das Raças:
Observe-se aqui a divergência de Roberto da Matta em relação à posição de Laplantine que condena a atuação do antropólogo como agente transformador da própria sociedade que estuda.
O "RACISMO À BRASILEIRA"
(IDÉIA: levantar a discussão "EXISTE RACISMO NO BRASIL? COMO ELE SE MANIFESTA?").
A sociedade brasileira apresenta, ao longo de sua história, SISTEMAS HIERARQUIZADOS plenamente concordantes com as DOUTRINAS DETERMINISTAS.
Os determinismos apresentam o todo como algo concreto, fornecendo um lugar para cada coisa e colocando cada coisa em seu lugar.

A FÁBULA DAS TRÊS RAÇAS
A importância dessa fábula reside, entre outras coisas, no fato de ela permitir a junção das pontas do popular e do elaborado (ou erudito) na nossa cultura, isto é, os seus aspectos empíricos (associados ao popular) e teóricos (associados ao concebido, erudito ou científico, aquilo que impõe a distância e as intermediações).
A profundidade histórica dessa fábula é impressionante. Que os três elementos sociais – branco, negro e indígena – tenham sido importantes entre nós é óbvio, constituindo-se sua afirmativa ou descoberta quase que numa banalidade empírica. É claro que foram! Mas o importante é o seu uso como recurso ideológico na construção da identidade social brasileira.
Isto não ocorreu da mesma forma nos demais países da América. Nos Estados Unidos, por exemplo, as coisas ocorreram de forma muito diversa do caso brasileiro. Naquele país não há escalas entre elementos étnicos: ou você é índio ou negro ou não é!
Tais gradações poriam em risco aqueles que têm o pleno direito à igualdade. Nos Estados Unidos não temos o "triângulo de raças" que foi mantido como um dado fundamental na compreensão do Brasil pelos brasileiros. Essa triangulação étnica tornou-se uma ideologia dominante, abrangente, capaz de permear a visão do novo, dos intelectuais, dos políticos e dos acadêmicos de esquerda e de direita. Todos proclamam unanimemente a mestiçagem e utilizam-se dessas unidades básicas – branco, negro, índio – através das quais se realiza a exploração ou a redenção das massas.
NO BRASIL DEU-SE UMA JUNÇÃO IDEOLÓGICA BÁSICA ENTRE UM SISTEMA HIERARQUIZADO REAL, CONCRETO E HISTORICAMENTE HERDADO DA MATRIZ PORTUGUESA E A SUA LEGITIMAÇÃO IDEOLÓGICA NUM PLANO MUITO PROFUNDO.
A sociedade portuguesa era extremamente hierarquizada tanto no contexto político quanto no social, com muitas camadas ou "estados" sociais diferenciados e complementares.
A IGUALDADE ERA RIGOROSAMENTE PROIBIDA.
Prelados, fidalgos, letrados, cidadãos (homens bons com direitos políticos) e, em último lugar, a grande massa, sem representação em cortes.
NINGUÉM ERA IGUAL PERANTE A LEI!
Assim era estruturada a complicada sociedade portuguesa, que se diferenciou das demais sociedades mercantilistas modernas por conservar justamente a aristocracia em seu seio. Embora fundada no modelo mercantilista moderno, era rigidamente controlada por leis e decretos que impediam a ascensão política de uma burguesia comercial com sua individualidade e interesses próprios. Ou seja, EM PORTUGAL IMPERAVA O MERCANTILISMO, MAS NÃO HAVIA UMA MENTALIDADE BURGUESA, COM SEUS IDEAIS IGUALITÁRIOS E INDIVIDUALISTAS. AS HIERARQUIAS TRADICIONAIS (ARISTOCRACIA E IGREJA CATÓLICA) FORAM MANTIDAS. Temos, pois, em Portugal a figura ímpar do ARISTOCRATA-COMERCIANTE OU DO FIDALGO-BURGUÊS, personagens de um drama social e político ambíguo, cujo sistema de vida sempre esteve fundado nos ideais da HIERARQUIA.
Nessa sociedade portuguesa dominada pelas hierarquias sociais abrangentes TUDO TEM UM LUGAR DEFINIDO. A categorização social é geral, inclusive em relação aos grupos étnicos diferenciados.
O português colonizador, longe de ser um indivíduo degredado e degradado, um marginal sem eira nem beira, RECONSTRUIU AQUI A SOCIEDADE PORTUGUESA ORIGINAL.
A colonização não foi uma empresa sem alvos e métodos definidos. Portugal realizou um verdadeiro transplante ideológico durante a colonização do Brasil, transpondo de lá para cá as suas formas de classificação social, técnicas jurídicas e administrativas, etc.
REPRODUZIU-SE AQUI EXATAMENTE A ESTRUTURA DA METRÓPOLE.
Embora não seja possível demarcar com precisão as ORIGENS DO CREDO RACIAL brasileiro, é possível assinalar seu CARÁTER PROFUNDAMENTE HIERARQUIZADO.
No momento em que as nossas estruturas começaram a ser abaladas pelas GUERRAS DE INDEPENDÊNCIA, houve uma REORIENTAÇÃO DOS SISTEMAS HIERÁRQUICOS vigentes no Brasil. Mesmo tendo esse caráter elitista, de cima para baixo, e não tendo, portanto, o mérito de promover transformações sociais mais profundas, a ruptura em relação à Coroa Portuguesa forçou as elites dominantes a buscar uma nova identidade brasileira, na verdade um NOVO ARRANJO IDEOLÓGICO que justificasse, racionalizasse e legitimasse as diferenças internas da nossa sociedade.
Na visão de Roberto da Matta, é justamente nesse momento que se introduz a FÁBULA DAS TRÊS RAÇAS E O "RACISMO À BRASILEIRA", uma ideologia que permite conciliar os impulsos contraditórios de nossa sociedade, sem que se crie um plano para a sua transformação profunda.
O período que antecede a Proclamação da República e a Abolição da Escravatura, momento de crise nacional profunda, quando se abalam as hierarquias sociais, é o marco histórico das doutrinas raciais brasileiras. A crise iniciada com a independência acabou se adiando e, por fim, desaguou no Movimento Abolicionista (progressista e igualitário) e na Proclamação da República (reacionário e fechado, destinado a manter o poder dos donos de terra).
A Abolição representou uma terrível ameaça ao edifício econômico e social do país. A IDEOLOGIA CATÓLICA E O FORMALISMO JURÍDICO PORTUGUÊS não se constituíam mais em elementos capazes de sustentar o sistema hierárquico, era preciso uma nova ideologia. Essa ideologia, ao lado das cadeias de relações sociais dadas pela patronagem e que se mantiveram aparentemente intactas, foi dada com o RACISMO. E ela surgiu de modo complexo, no bojo de dois impulsos contraditórios: um caracterizado pelo projeto reacionário de manter o status quo, libertando legalmente o escravo, mas mantendo-o de fato sem condições de libertar-se social e cientificamente; o outro tratando de perceber como o racismo foi uma motivação poderosa para investigar a realidade brasileira.
A FÁBULA DAS TRÊS RAÇAS se constitui na mais poderosa força cultural do Brasil, permitindo pensar o país, integrar idealmente sua sociedade e individualizar sua cultura. Essa fábula tem hoje a força e o estatuto de uma IDEOLOGIA DOMINANTE:
  • um sistema totalizado de idéias que interpenetra a maioria dos domínios explicativos da cultura, fornecendo por muito tempo as bases de um projeto político e social para o brasileiro (através da tese do "branqueamento" como objetivo a ser buscado);
  • permite ao homem comum, ao sábio e ao ideólogo conceber uma sociedade altamente dividida por hierarquizações como uma totalidade integrada por laços humanos dados com o sexo e os atributos "raciais" complementares;
  • Possibilita visualizar nossa sociedade como algo singular – especificidade que nos é presenteada pelo encontro harmonioso das três "raças";
  • Une a sociedade num plano "biológico" e "natural", domínio unitário, prolongado nos ritos de Umbanda, na cordialidade, no carnaval, na comida, na beleza da mulher (e da mulata) e na música.

AS FONTES ERUDITAS DO RACISMO BRASILEIRO
O racismo nasceu na Europa do século XVIII, na crise da Revolução Francesa, mas só veio dominar o cenário intelectual europeu no século seguinte, na forma das teorias evolucionistas cientificamente respeitadas, com as quais já estamos familiarizados.
No século XIX, o racismo aparece em sua forma acabada, como um instrumento do imperialismo e como uma justificativa "natural" para a supremacia dos povos da Europa Ocidental sobre o resto do mundo. Foi esse tipo de racismo que a elite intelectual brasileira bebeu sofregamente, tomando-o como doutrina explicativa acabada para a realidade que existia no país.
Adotaram-se amplamente as teorias racistas produzidas pelo norte-americano Agassiz e pelos europeus Buckle, Gobineau e Couty (mais influentes aqui por terem feito referências expressas ao Brasil). Na visão desses estudiosos o Brasil tinha um futuro duvidoso, pois a sociedade brasileira se caracterizava por "conjunções raciais rigorosamente condenadas" entre negros, brancos e índios.

AS DOUTRINAS RACISTAS DO SÉCULO XIX
PRESSUPOSTOS DAS TEORIAS RACISTAS
As teorias racistas baseavam-se em PRESSUPOSTOS simples e, justamente por isso, tinham alto poder atrativo sobre os círculos intelectuais políticos:
  • CADA RAÇA OCUPA UM CERTO LUGAR NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE e eram tomadas como espécies altamente diferenciadas, seja no tempo, seja no espaço, ou em ambas as dimensões; daí a ilação de que as diferenças entre as sociedades e nações expressavam as posições biológicas diferenciadas de cada uma numa escala evolutiva; Louis Agassiz, por exemplo, considerado o maior poligenista americano, não hesitava em situar a raça branca como superior e, após sua famosa visita ao Brasil, mencionar este país como um exemplo negativo da "deterioração decorrente do amálgama de raças que vai apagando rapidamente as melhores qualidades do branco, do negro e do índio, deixando um tipo indefinido, híbrido, deficiente em energia física e mental". Como se vê, o diagnóstico não é muito diferente do de Gobineau.
  • O DETERMINISMO, outro ponto essencial nas doutrinas racistas, estabelece que as diferenciações biológicas produziram (no "tempo biológico") TIPOS acabados e que cada tipo está determinado em seu comportamento e mentalidade pelos fatores intrínsecos ao seu componente biológico. Gobineau estabeleceu uma perfeita equação entre traços biológicos, psicológicos e posição histórica em seu A Diversidade Moral e Intelectual das Raças:

ESQUEMA DAS RAÇAS HUMANAS
SEGUNDO GOBINEAU (1856)

NEGRA
AMARELA
BRANCA
INTELECTO
Débil
Medíocre
Vigoroso
PROPENSÕES ANIMAIS
Muito fortes
Moderadas
Fortes
MANIFESTAÇÕES MORAIS
Parcialmente latentes
Comparativamente desenvolvidas
Altamente cultivadas

Gobineau afirmava:
  • a existência de diversas "raças brancas";
  • a superioridade das "raças brancas";
  • que cada raça tem uma determinada tendência baseada numa equação entre RAÇA = CULTURA = NAÇÃO = TRIBO (os fenícios eram mercadores; os gregos, "professores das futuras gerações" e os romanos, modeladores de governo e leis;
  • que os poderes ou instintos raciais nunca mudam enquanto a raça permanece pura;
  • se as "propensões animais" são fortes e não contrabalançadas por "manifestações morais", a "raça" estaria condenada a ter uma vida coletiva deficiente e desorganizada; quando as "propensões animais" são fortes e o "intelecto" é vigoroso, como nas "raças brancas", o resultado é uma "grande expansão no sentido moral, com uma complexa e variada organização política emergindo";
  • que as misturas infelizes de raças levariam civilizações à decadência, à ruína, a ser dominadas por outras ou até mesmo extintas.
Gobineau foi embaixador no Brasil e externava uma fantástica preocupação diante da realidade física de mulatos, cafuzos e mamelucos, afirmando que o branco estava perdendo suas qualidades para o índio e, sobretudo para a "raça negra".
FATORES QUE DETERMINARAM A ADOÇÃO DO RACISMO NO BRASIL
Essa teoria que relacionava a Biologia e a História com a moralidade foi aceita de imediato pelo Brasil. Nada mais fácil para servir de "modelo científico" à nossa realidade, dando-lhe uma forma totalizada e acabada, do que essa síntese arianista nascida do ideário europeu tão prestigiado de Gobineau.
Skidmore (1976) indica que a EXPERIÊNCIA HISTÓRICA é básica para a adoção das teses racistas, mas Roberto da Matta afirma a existência de outros elementos que devem ser considerados:
  • O "determinismo geográfico" foi menos estudado e debatido do que o "determinismo racial". Essa preferência indica claramente a profunda relação existente entre o meio social brasileiro e as doutrinas racistas, com o seu apelo explicativo para uma sociedade dividida em segmentos, cujo poder e prestígio diferencial e hierarquizado correspondia, grosso modo, a diferenças de tipos físicos e origens sociais.
  • o racismo à la Gobineau tinha o mérito de inaugurar uma reflexão sobre a dinâmica das "raças", abrindo a discussão das dinâmicas sociais (a sedução do "branqueamento dos negros" teria nele a sua origem?).
UMA ANÁLISE DA CONJUNTURA HISTÓRICA BRASILEIRA
Roberto da Matta descreve a situação histórica e social do Brasil com os seguintes traços:
  • A escravidão estava contida num sistema político antiindividualista e antiigualitário; um sistema totalizante e abrangente, dominado por uma modalidade muito bem articulada e antiga de formalismo jurídico – legado da colonização portuguesa.
  • Até o final do século XIX, constituiu-se uma sociedade de nobres, com uma ideologia aristocrática e antiigualitária; dominada pela ética do familismo, da patronagem e das relações pessoais, tudo isso emoldurado por um sistema jurídico formalista e totalizante que sempre privilegia o todo (a estrutura hierárquica social) e não as partes (os indivíduos e os casos concretos). Tudo isto fez com que o regime de escravidão fosse aceito como algo normal pela maior parte dos membros de nossas elites, tornando-se um sistema universal pelo fim do século XIX, exatamente o contrário do que ocorreu nos Estados Unidos, onde o trabalho escravo era um fato social regional, altamente localizado.
  • Estrutura política autoritária, centralizante, onde o político e a moralidade controlavam e demarcavam de cima os impulsos econômicos.
  • Sistema social fortemente hierarquizado, onde as pessoas se ligam entre si e essas ligações são consideradas fundamentais (valendo mais do que as leis universalizantes), permitindo aos senhores e escravos realizarem relações com muito maior "intimidade, confiança e consideração".
  • O senhor não se sente ameaçado ou culpado por estar submetendo um outro homem ao trabalho escravo, pelo contrário, vê o negro como seu complemento natural.
  • A visão de um mundo altamente hierarquizado e totalizado desde os céus (Igreja Católica com suas ordens de anjos, arcanjos, querubins, santos de vários méritos, etc. situadas em esferas, círculos e planos, tudo consolidado na Santíssima Trindade, todo e parte ao mesmo tempo) produz uma idéia de igualdade e hierarquia simultânea, o que enseja menores pressões nas relações entre senhores e escravos, superiores e inferiores, e daí o maior grau de intimidade entre as partes.
  • O ponto crítico de todo o nosso sistema é a sua profunda desigualdade: ninguém é igual entre si ou perante a lei; nem senhores (diferenciados pelo sangue, nome, dinheiro, títulos, propriedades, educação, relações pessoais "clientelistas", etc.), nem os escravos, criados ou subalternos, igualmente diferenciados entre si por meio de vários critérios; estabelece-se diferenciações para cima e para baixo, de forma que todo o universo social acaba pagando o preço da sua extremada desigualdade, colocando tudo em gradações.
  • Não há necessidade de segregar o mestiço, o mulato, o índio e o negro, porque as hierarquias asseguram a superioridade do branco como grupo dominante.
  • Uma totalidade francamente dirigida e fortemente hierarquizada, aliada com a ausência de valores igualitários, permitiu a conciliação, num plano profundo, das posições individuais e pessoais, dando lugar à intimidade, à consideração, ao favor e à confiança. (O autor refuta a suposição de Gilberto Freyre que simplesmente atribuía isto ao caráter nacional português).
  • Num sistema hierarquizado como o nosso, "cada coisa tem um lugar demarcado e cada lugar tem a sua coisa correspondente".
  • Situações de segregação só tendem a ocorrer quando o elemento não é conhecido socialmente, isto é, quando a pessoa não tem e não mantém relações sociais naquele meio, não está integrada na rede de relações altamente estruturadas que, por definição, não pode deixar nada de fora: nem propriedade nem emoção nem relação. Uma vez que tais relações são estabelecidas, todos ficam dentro de um sistema totalizante, por meio do qual todas as diferenças são resolvidas.
QUADRO COMPARATIVO ENTRE OS CONTEXTOS HISTÓRICOS BRASILEIRO E NORTE-AMERICANO, CONFORME ROBERTO DA MATTA
BRASIL
ESTADOS UNIDOS
BURGUESIA PORTUGUESA ATRELADA À ARISTOCRACIA E/OU SUBMISSA AO REI ("aristocratas-comerciantes" ou "fidalgos-burgueses").
BURGUESIA INGLESA POLÍTICAMENTE FORTE E INDEPENDENTE.
SISTEMA ECONÔMICO ORIGINADO SOB FORTE SUJEIÇÃO À COROA PORTUGUESA.
SISTEMA ECONÔMICO ORIGINADO SOB FORTE INFLUÊNCIA DA INICIATIVA PRIVADA BURGUESA.
CATÓLICISMO (HIERÁRQUICO)
PROTESTANTISMO (ANTI-HIERÁRQUICO)
SISTEMA SOCIAL ALTAMENTE HIERARQUIZADO.
BAIXA HIERARQUIZAÇÃO DO SISTEMA SOCIAL.
FORMALISMO JURÍDICO ACENTUADO
SISTEMA JURÍDICO POUCO FORMAL
IDEOLOGIA ARISTOCRÁTICA ANTIIGUALITÁRIO E ANTIINDIVIDUALISTA. ("Ninguém é igual entre si ou perante a lei".)
IDEOLOGIA BURGUESA IGUALITÁRIA E INDIVIDUALISTA. (Os cidadãos – leia-se "brancos" – são iguais entre si e perante a lei)
INTIMIDADE ENTRE SENHORES E ESCRAVOS, SUPERIORES E INFERIORES.
SEGREGAÇÃO E DISTANCIAMENTO ENTRE SENHORES E ESCRAVOS.
SEGREGAÇÃO AUSENTE; MESTIÇOS SÃO CLASSIFICADOS EM GRADAÇÕES; A MISCIGENAÇÃO É TOLERADA;
SISTEMA TRIANGULAR
MISCIGENAÇÃO RIGOROSAMENTE CONDENADA; NEGROS E MESTIÇOS RADICALMENTE SEGREGADOS.
REGIME ESCRAVISTA COMO FORMA DOMINANTE (UNIVERSAL) DE EXPLORAÇÃO DO TRABALHO.
REGIME ESCRAVISTA COMO FATO SOCIAL REGIONAL, ALTAMENTE LOCALIZADO.
AS PRESSÕES GERADAS PELA ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA FORAM CONTROLADAS ATRAVÉS DO FORTE SISTEMA HIERÁRQUICO E DO FORMALISMO JURÍDICO.
AS PRESSÕES GERADAS PELA LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS LEVARAM A PROFUNDOS CONFLITOS RACIAIS.
 As origens do racismo brasileiro
O movimento da Independência (1822) provocou uma forte reorientação dos sistemas de hierarquia vigentes no Brasil. A partir desse momento, o racismo se coloca como uma ideologia necessária para substituir as antigas idéias da Igreja Católica que perdiam força diante do crescimento dos ideais libertários e igualitários da França e com a consolidação da burguesia protestante no cenário mundial. O centro de poder, antes localizado no além-mar, passava a se localizar no Rio de Janeiro, sofrendo naturalmente todas as pressões da sociedade local.
Essa busca de uma identidade nacional e de mecanismos ideológicos de racionalização e legitimação das diferenças sociais internas do país resultou na adoção da "fábula das três raças" e no "racismo à brasileira", uma ideologia que permite conciliar uma série de impulsos contraditórios de nossa sociedade, sem que se crie um plano para sua transformação profunda.
O marco histórico das doutrinas raciais brasileiras é o período que antecede a Proclamação da República e a Abolição da Escravatura, momento de crise nacional profunda, quando se abalam as hierarquias sociais.
A Abolição foi um movimento de sentido progressista e aberto (igualdade e transformação das hierarquias), enquanto a República se traduz num movimento reacionário e fechado (manutenção do poder dos donos de terras).
A ideologia católica e o formalismo jurídico herdado de Portugal não eram mais suficientes para sustentar o sistema hierárquico, era preciso uma nova ideologia (destaque-se aqui a importância do apogeu do positivismo comteano nessa época).
As cadeias de relações sociais dadas pela patronagem se mantiveram intactas. Associada à doutrina racista emergente na Europa, instalou-se, então, uma ideologia capaz de justificar o sistema social vigente e mantê-lo equilibrado.
Assim, tratou-se de manter o status quo, libertando o escravo juridicamente, mas deixando-o sem condições de libertar-se de fato.
A "fábula das três raças" se constitui na mais poderosa força cultural do Brasil, permitindo pensar o país, integrar idealmente sua sociedade e individualizar sua cultura. Tem a força e o estatuto de uma ideologia dominante: um sistema totalizado de idéias que interpenetra a maioria dos domínios explicativos da cultura. Sustentou por muitos anos e ainda hoje fornece as bases de um projeto político e social (através da tese do "branqueamento" como alvo a ser buscado). Permite a todos conceber uma sociedade altamente dividida por hierarquizações como uma totalidade integrada; e, finalmente, essa fábula possibilita visualizar nossa sociedade como algo singular – especificidade que nos é presenteada pelo idealizado encontro harmonioso das três "raças". O mito das três "raças" une a sociedade num plano "biológico"e "natural", domínio unitário, prolongado nos ritos da Umbanda, na cordialidade, no carnaval, na comida, na beleza da mulher (e da mulata) e na música...

As fontes eruditas do racismo brasileiro
Com o surgimento das teorias evolucionistas no século XIX, o racismo assume a sua forma acabada, como um instrumento de dominação e como justificativa "natural" para a supremacia dos povos europeus ocidentais sobre o resto do mundo. A elite intelectual brasileira absorveu sofregamente essas idéias, tomando-as como doutrina explicativa para a realidade que existia no país.
Mas, na visão dos estudiosos europeus e norte-americanos, o Brasil se constituía num exemplo negativo, "uma arena de conjunções raciais entre negros, brancos e índios" que eram totalmente condenadas. Gobineau afirmava que a sociedade brasileira era inviável porque possuía uma enorme população "mestiça", produto indesejado e híbrido das "raças" que eram vistas como espécies diferenciadas.
Pressupostos das teorias racistas
  • Cada raça ocupa um certo lugar na história da humanidade.
  • As raças eram tomadas como espécies altamente diferenciadas no tempo e/ou no espaço. Daí a ilação de que as diferenças entre as sociedades e nações expressavam as posições biológicas de cada uma numa escala evolutiva.
  • Determinismo – As diferenciações biológicas são vistas como tipos acabados e cada tipo está determinado em seu comportamento e mentalidade pelos fatores intrínsecos ao seu componente biológico. Explicitando essa visão, Gobineau afirmava que os "poderes e os instintos ou aspirações que surgem deles [povos] nunca mudam enquanto a raça permanece pura... nunca alteram a sua natureza". Assim, ele estabeleceu combinações entre INTELECTO, PROPENSÕES ANIMAIS e MANIFESTAÇÕES MORAIS para caracterizar a "natureza" das raças branca, negra e amarela, situando a primeira como o ápice da escala evolutiva. Essa teoria gerou o "arianismo" na Europa e foi prontamente aceita pelo Brasil.
Como a teoria racista se incorporou no pensamento brasileiro
É evidente que a experiência histórica é básica para a adoção das teses "racistas", mas, segundo da Matta, ela não é tudo:
  • Nem todas as formas de determinismo foram aceitas para discussão no meio social, político e cultural brasileiro. O "determinismo geográfico", por exemplo, foi muito menos explorado do que o "determinismo racial". Essa escolha tem razões profundas em seu apelo explicativo para uma sociedade dividida em segmentos, cujo poder e prestígio hierarquizado correspondia, grosso modo, a diferenças de tipos físicos e origens sociais.
  • O racismo à la Gobineau tinha o mérito de inaugurar uma reflexão sobre a dinâmica das "raças"; podia-se, com isso, deixar de louvar os tipos puros (sobretudo o "ariano"), passando-se a especular sobre os resultados dos "cruzamentos" entre as "raças". No Brasil não havia a necessidade de segregar o mestiço, o mulato, o índio e o negro, porque as hierarquias asseguram a superioridade do branco como grupo dominante. Cabe salientar a importância da idéia do "branqueamento", tida como uma espécie de "ascensão social" dentro da visão hierárquica brasileira.
Tal como na Índia, as camadas diferenciadas da sociedade – as castas – são vistas como complementares (cada uma com a sua função). Aqui no Brasil, o nosso racismo forneceu os elementos de uma visão semelhante, colocado no triângulo das raças quando situa o branco, o negro e o índio como formadores de um novo padrão racial.
A falta de segregação se deve à falta de valores igualitários. Negros e índios têm uma posição demarcada num sistema de relações sociais concretas que engendra os laços de patronagem, permitindo conciliar posições individuais e pessoais, com uma totalidade francamente dirigida e fortemente hierarquizada. O maior crime entre nós (num sistema hierarquizado) não está em ter alguma característica distintiva, mas em não ter relações sociais, em ser um indivíduo desgarrado, desconhecido e solitário.
POSITIVISMO – Doutrina criada por Augusto Comte (posteriormente denominada positivismo clássico) segundo a qual toda a atividade filosófica e científica deve efetuar-se somente no quadro da análise dos fatos verificados pela experiência. O domínio das coisas em si é inacessível ao espírito humano, que deve renunciara a todo a priori, limitando-se a formular leis e relações entre os fenômenos observados. O positivismo foi considerado por Comte como a base e o fundamento metodológico de uma nova ciência social, a "física social" ou "sociologia". Mais tarde foi concebido pelo próprio Comte como uma nova religião da humanidade.
No Brasil, o positivismo comteano alcançou grande expressão, principalmente pelo trabalho de Miguel Lemos e Teixeira Mendes, exercendo influência sobre diversos líderes republicanos, em especial Benjamin Constant, tanto que o lema "ordem e progresso", presente na bandeira nacional é um dos ideais do pensamento comteano.
(Grande Enciclopédia Larousse Cultural, vol. 19, pp 4736-4737, Nova Cultural)
RAIMUNDO NINA RODRIGUES, etnógrafo, criminalista, patologista e sociólogo brasileiro, nasceu em Vargem Grande/MA, no ano de 1862, e faleceu em 1906, em Paris. Considerado como um pioneiro dos estudos africanos no Brasil, estudou as atitudes psicológicas dos africanos e seus descendentes na Bahia sob um prisma nitidamente racista. Defendeu teses como a da incapacidade civil do negro, pois sua inteligência seria limitada como a das crianças. Deixou vasta bibliografia, destacando-se: O Animismo Fetichista dos Negros da Bahia (1900), de especial interesse folclórico; Os Africanos no Brasil (1932), onde tratou de aspectos religiosos e folclóricos, deixando um registro pioneiro de especial interesse histórico acerca do Quilombo dos Palmares.
(Grande Enciclopédia Larousse Cultural, vol. 21, pp. 5095-5096, Nova Cultural)
SÍLVIO VASCONCELOS DA SILVEIRA ROMERO, pensador, crítico, ensaísta e primeiro historiador sistemático da literatura brasileira, nascido em Lagarto/SE, 1851, e falecido em 1914, no Rio de Janeiro. Em Recife, ao lado de Tobias Barreto, expressou a ânsia de renovação que acompanhou a ascensão do positivismo. Membro da chamada Escola de Recife, pretendeu com sua obra uma superação do ecletismo e do positivismo. Inspirando-se sobretudo em Kant e no evolucionismo spenceriano, deu origem a um culturalismo sociológico. Em 1888, publicou Etnografia Brasileira e, em 1894, o ensaio filosófico Doutrina Contra Doutrina – o evolucionismo e o positivismo no Brasil; em 1901, escreveu Ensaios de Sociologia e Literatura e, em 1906, A América Latina.

http://lcnobeli.blogspot.com/2009/10/o-problema-do-racismo-bra